Diligências de Habilitação do Santo Ofício

- Luisa Caetana de Mesquita Silva e Sousa | -- Luís Lázaro Pinto Cardoso | --- Belchior Luís Pinto Cardoso | --- Rosa Maria da Mesquita Pereira | -- Mariana Teresa da Silva Teixeira | --- Grandfather: Francisco de Sousa Teixeira | --- Grandmother: Rosa Teresa da Silva |
Nome Luisa Caetana de Mesquita Silva e Sousa
Estado CivilSolteiro
Data de nascimento/baptismo
Data do processo
Naturalidade - São Vítor, Braga
PaiLuís Lázaro Pinto Cardoso (Mirandela)
MãeMariana Teresa da Silva Teixeira (Cidade de Braga)
Avô PaternoBelchior Luís Pinto Cardoso (Mirandela )
Avó PaternaRosa Maria da Mesquita Pereira (São Pedro Velho, Vila Real)
Avô MaternoFrancisco de Sousa Teixeira (Dornelas)
Avó MaternaRosa Teresa da Silva (São Vítor, Braga)
Cargo a que se candidata(não definido)
Processo Torre do TomboPT/TT/TSO-CG/A/008-002/234
Informação do arquivoTSO-CG, Habilitações Incompletas, doc. 234
Descrição
Informação adicionalpág. 7-15: António Bernardo de Morais Sarmento, familiar do Santo Ofício, pede a vossa licença para casar com Dona Luísa Caetana de Mesquita Silva e Sousa, descendente de Maria de Valença, (...) examinando os processos de Ana Pinto Pereira e Mariana de Jesus que também dela descendem.<br> Uma das maiores famas de “cristão-novice” que há neste Reino entre todos os genealógicos e pessoas inteligentes é a da dita Maria de Valença, sendo tradição constante que ela era filha de um médico Castelhano, chamado Francisco de Valença, de quem herdara a impureza de sangue; sem que tenham sido bastantes para desvanecer esta fama as muitas habilitações que tem havido nesta família, não só pelos ordinários, religiões e mesa da consciência, mas também pelo Santo Ofício nas pessoas dos familiares António de Mesquita Pinto, Gonçalo Teixeira Coelho, Luís Lázaro Pinto Cardoso, pai da habilitanda, e outros mais; porém não falta quem faça reparo em que os parentes maiores desta família, quais são o Senhor de Felgueiras, o Formado João Pinto Coelho, Gonçalo Cristóvão Teixeira Coelho, e por sua mãe o Secretário de Estado António Guedes Pereira não se habilitassem pelo Santo Ofício com o exemplo dos outros parentes; o que se atribui a ter tomado neles maior corpo a dita fama pela razão de serem mais conhecidos, e exaltados; e pela mesma causa se não perdeu a memória de que descendiam de Maria de Valença; o que não sucedeu assim aos outros ramos que por mais pobres, e mudanças de domicílios dos avós, não padecem fama alguma entre as pessoas que não têm instrução de famílias e lhes ignoram a descendência de Maria de Valença; e destas é que naturalmente seriam as testemunhas que juraram nas ditas habilitações (...) vendo-se que em nenhuma delas se discutiu a fama.<br> Do processo de Ana Pinto Pereira, religiosa no convento de Santa Ana desta cidade, é neta de Maria de Valença, consta que foi presa nos cárceres desta Inquisição por culpas de Judaísmo, que lhe davam oito testemunhas de declaração formal e depois lhe acresceram mais três, sendo todas religiosas do mesmo Convento, cristãs-novas e presas nestes cárceres (...) Do processo de Mariana de Jesus, religiosa no mesmo Convento, sobrinha da dita Ana Pinto, e como tal bisneta de Maria de Valença (...) foi presa nos cárceres desta inquisição por culpas de judaísmo que lhe davam três testemunhas de declaração formal e uma de declaração tácita, e depois lhe acresceram mais três também formais: confessou na genealogia que tinha parte de cristã-nova por seu pai João Pinto Pereira (...)<br> Ao processo de Ana Pinto andam apensos vários documentos, que respeitam à sua qualidade de sangue; num deles consta de doze testemunhas, tiradas na Vila do Mogadouro (onde foi moradora Maria de Valença), por um religioso do Convento de S. Francisco da mesma vila (...): nenhuma das ditas testemunhas conheceu Maria de Valença, mas todas tinham boa notícia dela, e de seu marido Francisco Vaz Pinto e dizem uniformemente que era cristã-velha sem o menor rumor em contrário; o que é argumento de falsidade na tal diligência (...) o que se comprova de dois depoimentos que se acham logo depois da mesma diligência, tomados na Mesa da Inquisição, (...) um é de Luís Álvares de Távora, conde de S. João e Senhor do Mogadouro, o qual diz que tinha notícia de Maria de Valença, filha do Bacharel Valença, que foi médico de seu avô Luís Álvares de Távora; e que era reputada por cristã-nova entre todas as pessoas graves, e de capacidade: o outro é de Luís Télo, desembargador da Mesa Ecelesiástica dessa Corte e Provisor do Crato, natural do Mogadouro, o qual diz o mesmo, acrescentando que ninguem na dita vila pode dizer o contrário sem suspeita de falsidade, por ser coisa muito pública e notória.<br> Outro apenso é a certidão de uma inquirição que o Vigário Geral do Bispado do Porto mandou fazer à cidade de Zamora, Reino de Castela, sobre a pureza de uns fulanos de Valença, que se dizia eram parentes das ditas rés; o qual documento se não atendeu por ser feito em diverso juízo à instância de pessoas interessadas, que o solicitaram e levaram aberto ao Sr. Inquiridor Geral. Ainda finalmente por apenso à certidão de uma diligência (porque a própria desapareceu do Secreto) que se foi fazer à cidade de Zamora, pátria de Maria de Valença, sobre a sua qualidade de sangue, por ordem da Inquisição de Valladolid, à qual escreveu uma carta o Sr. Inquisidor Geral para este efeito no ano de 1624: nenhuma das testemunhas conheceu Maria de Valença porque havia noventa ou cem anos que tinha vindo para este Reino; porém, mostram que tinham boa notícia não só dela mas de seu marido e alguns dos filhos que entre eles houve; e que era não só cristã-velha, mas muito nobre e a maior parte das testemunhas a fazem de uma casa principal que havia naquela cidade, da qual era Senhor Dom Filipe de Valença; outras dizem que ouviram era da Casa de Alonso de Valença, também nobre e puro: assim foram jurando até ao numero 17, fazendo puros e nobres todos os Valenças daquela terra; porém logo se segue uma conta, que o familiar do Santo Ofício Cristóvão Vicente deu à mesma Inquisição de Valladolid, dizendo que naquela cidade de Zamora, se tirara uma inquirição da limpeza de sangue de Maria de Valença, mas que se não fazia como devia ser, porque o cónego Francisco de Valença, parente da mesma família andava induzindo testemunhas com dádivas e promessas, e instruindo-as no que haviam de jurar; e que também ele foram combatido para o mesmo efeito, mas que se escusara; e que o comissário e notário eram muito amigos e dependentes do dito cónego, e lhe haviam de comunicar os termos da diligência, pelo que nenhuma testemunha havia de depor nela livremente, e com verdade; e que seria bom perguntar a algumas testemunhas que nomeou; as quais foram perguntadas pelos mesmos comissário e notário suspeitos. E ainda que nenhuma fala em fama expressa de Maria de Valença, algumas delas a dão a entender como é o familiar do Santo Ofício Luís Peres da Ribeira testemunha 25, o qual diz que há duas castas de Valenças naquela cidade e que a notável diferença que há entre uns e outros a declarará, sendo necssário, na presença dos Inquisidores de Valladolid; mas não foi lá chamado. Pelo mesmo estilo depoem o dito Familiar denunciante Critóvão Vicente, testemunha 27 que foi também mandado inquirir e se pode entender dele que não falou mais claro pelo pouco que fiava do Segredo e fidelidade do comissário e notário. Outras mais testemunhas destas últimas já não depoem com tanta notícia de Maria de Valença e seus parentes como as primeiras 17, e algumas se metem no escuro pelo que respeita à qualidade de sangue, pois dizem que não sabem dessa matéria, mas certificam haver em Zamora várias familias de Valenasç, com muito diferentes qualidades, que nem isto diziam as ditas primeiras testemunhas.<br> Isto é o que substancialmente consta da dita diligência, está muito suspeita de falsidades pelo que fica referido: além do que é nela digno de reparo que depondo as primeiras 17 testemunhas de tão clara notícia de Maria de Valença, dos nomes de seu marido e filhos que teve neste reino, e ainda dos empregos que nele ocuparam, nenhuma lhe soubesse o nome do pai, e pretendendo fazê-la tão nobnre, como filha da Casa de D. Filipe de Valença, não lembrase o comissário perguntar ao D. Filipe sobre esta matéria assim como lhe lembrou tirar por testemunha ao sobredito cónego Francisco de Valença, procurador desta diligência. Pelas maior parte das testemunhas, consta que os netos da mesma Maria de Valença, tinham ido a Zamora fazer várias provas da sua limpeza, e com esta ocasião contrairam lá amizades e parentescos; e de então é que se principiou a espalhar pela terra que a sua avó era dos Valenças nobres que lá havia; do que se pode inferir que confundiram os seus Valenças com os bons e puros; e como eram homens distintos, facilmente o persuadiriam por si e pelos seus amigos às pessoas que nisto não levavam interesse algum; e daqui é que principiaram as habilitações dos clérigos e frades que então houve nesta família, ainda que não aparecem mandando-os fazer diligência por algumas; porém naquele tempo não se guardavam nem faziam com a regularidade e exação de hoje. <br> No mesmo processo de Ana Pinto se acham um memorial de seu irmão António Pinto Pereira, que respeita à sua qualidade de sangue: nega nele que sua avó Maria de Valença seja filha do médico Valença, mas não lhe dá outro pai, devendo nomear-lo já que intentava fugir do dito médico, pois uma avó não fica tão longe que se não possa saber de quem foi filha, maioritariamente sendo nobre, como pretendiam fazê-la. Também alega que uns filhos de Maria de Valença foram chamados por El Rey D. João o 3º para o serviço de seu filho natural D. Duarte; e que depois foram ministros e um deles, sendo agente em Roma, lá tratara negócios da inquisição e que nenhum destes empregos se lhe daria se fossem de infecta nação. Dos processos só consta que foram ministros de graduação maior e que um deles estivera com efeito em Roma no ministério de Agente deste Reino; porém isto não é prova da sua limpeza, porque as mesmas ocupações se tem dado a outros mais modernos, notavelmente infamados de impureza de sangue; e que ao dito agente se cometessem negócios do Santo Ofício não consta mais que pelo referido memorial, ainda que bem podia ser porque como El Rey D. João o 3º foi o fundador da Inquisição neste reino nao era muito que mandasse tratar deste negócio pelo seu ministro na curia já que lá o tinha pois o autor do memorial não diz que ele foi mandado de propósito à dita incumbência.<br> Do que tudo se mostra que esta qualidade de sangue tem grande dúvida, pois ainda que haja alguns fundamentos que se possam alegar a seu favor, há outros em contrário com muitos indicios de falsidades em todos os documentos juntos. Mostra-se também que esta matéria não foi tratada naquele tempo com a exação que merecia, porque a diligência de Zamora devia repetir-se com outras providências e cautelas, visto depender dela todo este negócio, e quando então se não averiguou a verdade, e havendo só noventa ou cem anos de antiguidade, é moralmente impossível que hoje se consiga, tendo passado mais de duzentos anos, e se as ditas rés fossem agora julgadas conforme o merecimento dos autos, naturalmente o seriam pelo meio – de cuja qualidade de sangue ao certo não consta – que era o maior favor que se lhe podia fazer; mas como esta família se acha espalhada pelo Reino e compreende muitas casas nobres das provincias que estão na quasi-posse da sua pureza pelas habilitações dos ordinários, religiões, e Mesa da Consciência; parece-nos que nesta matéria se ponha perpétuo silêncio, visto não haver esperanças de melhoramento, mas de nenhum modo se continuem nesta família as habilitações do Santo Ofício; e como ao dito familiar se avisou que a habilitação desta sua futura mulher poderia ter demora considerável, não lhe causará novidade a falta da licença, e naturalmente desistirá do casamento.
Outros parentes com habilitação no Santo Ofício
AutorFábio Abreu

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